1.3.11

.

Ela tamborilava os dedos olhando para a dança das folhas da árvore no meio da tempestade. Ela sabia o que queria. E o que não queria. Na verdade, ela sabia muito melhor o que não queria. Não queria estar ali. Não queria ter que arrumar as malas. Não queria ter que sorrir bom dia para os conhecidos transeuntes de toda vez. Não queria não ter tido tempo de olhar-se demoradamente no espelho para mais uma vez criticar-se. Não queria ter-se levantado àquela hora. Não queria nunca mais sentir aquele vazio. Não um vazio de dentro, mas sim um vazio de fora. Tudo estava vazio. As pessoas, o ar, o cigarro. E assim, ela inalava o vazio para os pulmões e contaminava-se com aquilo. Causava uma necessidade de precipitação. Precipitação de tudo. Como quando o ar falta aos pulmões àquele que está se afogando e ele precipita-se em busca de ar. Um esforço desesperado buscando a vida.

2 comentários:

Histórias que povo conta! disse...

Muito bom, gostei da forma simples e profunda de dizer as palavras.
Joel

pontoeochapeucorderosa disse...

as pedras que encontro no caminho não me atrapalham, quando passo por cima de elas fico mais perto do ceu.