29.11.09

Adendo I

Ela ia para Guarulhos. Saiu de casa com os cabelos molhados, e antes de chegar no destino, seus cabelos já haviam secado. Sim, ela media o tempo que demorava para chegar aos lugares pela rapidez com que seu cabelo secava, se é que secava. E haviam tabelas imensas de cálculos para isso, e variáveis mil, tais como a estação do ano, o tempo do dia, o shampooo que ela usou, e quanto tempo ficou com a toalha na cabeça.

21.9.09

Cartas à um amigo II

Manhã chuvosa, de uma sexta feira cinzenta, e Bárbara luta contra o toque do
celular enrolada nos cobertores. Chulico, seu gato, tenta miar o mais alto
que seu corpinho mínimo permite, para que a dona levante e encha seu
recipiente de comida fresquinha, mas nada parece surtir efeito.
De repente, ela abre os olhos. Assustada, de um sonho estranho que estava
tendo, onde todas as pessoas ao invés de falarem, quando abriam a boca,
emanavam sons de toques de celular. 6:52 am. Ela está atrasada. Levanta em
um pulo e em menos de 15 minutos consegue tomar um banho ridiculamente
rápido, e esta pronta para sair. Se lembra de pegar alguma coisa para comer.
Desta vez, tinha Club Social de Presunto em cima da mesa. Incrivelmente ela
se lembra também de pegar o guarda chuva, que odeia carregar e vive
esquecendo por aí.
Consegue chegar para pegar o trólebus das 7:25am na Estação. Consegue ir
sentada. "Nossa um milagre!" pensa ela. Mas ainda está pensando devagar
demais, considerando que está acordada há menos de meia hora. Como uma
canção de ninar o ruído dos fios elétricos da tensão dos trólebus que chegam
e partem fazem com que ela imediatamente adormeça, antes mesmo do veículo em
que está entrar em movimento. Não pensa em nada, sonha com o vazio, e de
repente, sente sua cabeça ser jogada para frente. Acorda. As pessoas dentro
da condução parecem revoltadas. Ao abrir os olhos devagar e se adaptar à luz
e ao barulho dos transeuntes falando, percebe que o trólebus está parado.
Bom, deve ser um farol, pensa ela. E volta a fechar os olhos. Assim que sua
cabeça se acomoda e ela começa a soltar os músculos mais uma vez, o alvoroço
ao seu redor começa a aumentar, e ela abre só o cantinho do olho e descobre:
A rede elétrica caiu, e todos os trólebus pararam. "Hm, hoje é meu dia de
sorte. Vou poder dormir bastante enquanto essa merda não volta a funcionar,
e ainda tenho uma ótima desculpa para chegar atrasada no trabalho.
Perfeito!", tece ela em seu emaranhado de pensamentos desordenados e
aleatórios devido ao sono excessivo.

E foi assim que eu cheguei no trabalho hoje!

4.9.09

Cartas à um amigo I

Meu livro está acabando, Erick. E isso me deixa triste. Me deixa
triste por vários motivos. A Fernanda é uma puta de uma escritora
foda, com uma narrativa muito gostosa de se ler. Parece que ela está
sentada conversando com você e te contando a história. Parece até que
você consegue imaginar as caretas delas, e saber quando ela faz uma
pausa pra acender um cigarro.
Segundo que, meu, como é bom saber que tem gente fodidamente doida que
nem a gente nesse mundo né? Ou melhor ainda, que tem gente pior. Acho
que é da natureza do ser humano sempre ficar procurando alguém pior do
que ele mesmo para poder falar: nossa, esse aí é mais fudido que eu! E
isso faz a gente se sentir um pouqinho melhor com a gente mesmo e com
todas as merdas que a gente já fez e viveu.
E o outro ponto, e acho que o mais importante. É que lendo livros
assim, Erick, como esse, eu fujo. Eu fujo das decisões que eu preciso
tomar, das escolhas que eu tenho que fazer, das pessoas que eu não
preciso olhar. Fujo de mim mesma e do mundo, mas ao mesmo tempo me
encontro. Ao ter um livro na mão, esse objeto quadrado e inanimado,
crio uma relação com ele, que não existe com mais ninguém e entre mais
nada. Uma relação que não requer cobrança, nem carinho, nem atenção,
nem sequer cuidado. Você pode ser egoista, voce pode ser melancólica,
afobada, ou ansiosa. Você pode ficar dias sem ler, e ele não vai achar
ruim, você pode ler a todo momento, e ele não vai te achar carente. A
relação que eu tenho com livros é uma coisa muito louca. Acho que é
por isso que eu gosto tanto de ler.
Mas o melhor de tudo é que eu posso falar dessas maluquices idiotas
com você, e saber que você vai entender tudo que eu escrevi.
Sabe, eu sei que eu tenho a cabeça meio fodida. Mas me deixa feliz
saber que eu me sinto a vontade com você a ponto de dizer essas coisas
que a gente nunca diz pra ninguém. De expor o lado obscuro do meu ser