4.9.09

Cartas à um amigo I

Meu livro está acabando, Erick. E isso me deixa triste. Me deixa
triste por vários motivos. A Fernanda é uma puta de uma escritora
foda, com uma narrativa muito gostosa de se ler. Parece que ela está
sentada conversando com você e te contando a história. Parece até que
você consegue imaginar as caretas delas, e saber quando ela faz uma
pausa pra acender um cigarro.
Segundo que, meu, como é bom saber que tem gente fodidamente doida que
nem a gente nesse mundo né? Ou melhor ainda, que tem gente pior. Acho
que é da natureza do ser humano sempre ficar procurando alguém pior do
que ele mesmo para poder falar: nossa, esse aí é mais fudido que eu! E
isso faz a gente se sentir um pouqinho melhor com a gente mesmo e com
todas as merdas que a gente já fez e viveu.
E o outro ponto, e acho que o mais importante. É que lendo livros
assim, Erick, como esse, eu fujo. Eu fujo das decisões que eu preciso
tomar, das escolhas que eu tenho que fazer, das pessoas que eu não
preciso olhar. Fujo de mim mesma e do mundo, mas ao mesmo tempo me
encontro. Ao ter um livro na mão, esse objeto quadrado e inanimado,
crio uma relação com ele, que não existe com mais ninguém e entre mais
nada. Uma relação que não requer cobrança, nem carinho, nem atenção,
nem sequer cuidado. Você pode ser egoista, voce pode ser melancólica,
afobada, ou ansiosa. Você pode ficar dias sem ler, e ele não vai achar
ruim, você pode ler a todo momento, e ele não vai te achar carente. A
relação que eu tenho com livros é uma coisa muito louca. Acho que é
por isso que eu gosto tanto de ler.
Mas o melhor de tudo é que eu posso falar dessas maluquices idiotas
com você, e saber que você vai entender tudo que eu escrevi.
Sabe, eu sei que eu tenho a cabeça meio fodida. Mas me deixa feliz
saber que eu me sinto a vontade com você a ponto de dizer essas coisas
que a gente nunca diz pra ninguém. De expor o lado obscuro do meu ser

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